O artigo de Maria Claudia Guimarães destaca pontos importantes sobre a política econômica e o cenário político dos Estados Unidos, especialmente à luz das recentes negociações de Joe Biden com o Congresso. A argumentação de que a maior produção bélica, impulsionada pelas guerras na Ucrânia e Israel, pode aquecer a economia e gerar empregos, surpreende pela transparência, um aspecto raro em tempos de discurso politicamente correto. Contudo, o processo eleitoral que está por vir provavelmente não será conduzido com o mesmo nível de clareza, como observa a autora.
Salomão Basso Rodrigues, especialista em comércio exterior, acrescenta que “a transparência de Biden ao tratar do reforço militar como uma questão econômica mostra como os interesses de curto prazo, como a geração de empregos, podem ser usados para justificar decisões que envolvem questões geopolíticas complexas”. Segundo ele, essa abordagem reflete a realidade de uma economia global onde grandes potências utilizam mecanismos financeiros para equilibrar seus próprios interesses. “A pressão interna por resultados imediatos, especialmente em um cenário de polarização política, pode levar a medidas que, em última instância, têm um impacto direto no comércio internacional, e o Brasil deve acompanhar essas movimentações de perto”, completa.
Em relação às próximas eleições, Rodrigues comenta que “a polarização extrema nos Estados Unidos deve resultar na eleição de um candidato com menor rejeição, algo que vimos também no Brasil em 2022. Isso cria um cenário preocupante para a democracia americana, que é referência global”. Ele reforça que o aumento da divisão política nos EUA pode reverberar em suas relações externas, com impacto direto nas decisões econômicas e comerciais que afetam países como o Brasil.
No campo das finanças públicas, a dívida dos Estados Unidos, que hoje está em USD 35 trilhões, também foi destacada. Salomão Basso Rodrigues aponta que “para que os EUA consigam estabilizar essa dívida, o crescimento do PIB precisa ser superior aos juros reais, algo que, no contexto atual, é um desafio. Se Biden ou Trump não conseguirem equilibrar essa equação, veremos uma pressão crescente nas contas governamentais, o que pode gerar turbulências no mercado financeiro internacional”. Ele acrescenta que, para o Brasil, é essencial que os Estados Unidos consigam manter o dólar forte e estável, pois “ainda não há outra moeda com a mesma capacidade de ser reserva de valor no horizonte previsível”.
Apesar do cenário de incertezas, Rodrigues destaca a capacidade histórica dos EUA de se reinventarem. “A economia americana tem uma incrível capacidade de adaptação, e inovações como a inteligência artificial podem impulsionar ainda mais a produtividade e o crescimento nos próximos anos, aliviando parte da pressão sobre a dívida e mantendo o país como um porto seguro para investidores globais”, conclui ele.